a história trágica e verídica do amor eterno - contada pelo rato do campo, que era um travesti ; 8:52 da tarde
[Another oldie. Sorry, kids. Getting bored, never a good sign...]
Morreste.
Tinhas de morrer. Era imperativo que morresses, que eu ficasse viva. Assim determina quem canta o fado, ou não canta.
Pois o amor eterno tem de ser belo, jovem e trágico.
E tem de ser veludo de encontro à pela, água cálida, banho de espuma. E alguém tem de morrer. Aí reside a eternidade dos que prometeram para sempre. É essa a verdade em que reside a tragédia e a doçura.
E passo de dança por detrás dos olhos, e beijo escondido por detrás da janela.
E todos os românticos fecham os olhos, deliciados, aéreos como só eles ficam, num estado que os aproxima dos deuses, enquanto caem ao abismo.
Ainda bem pelo abismo.
E quando caem por não ter asas, fecham os olhos e dormem.
E sonham.
E não importa. Não realmente. Porque a traça ama a chama quando nela morre, destino fatídico por ser quem é.
E se Adão mordeu a maçã, foi porque quis. Porque a desejou mais do que tudo. Porque a amou mais do que a um deus morto. E porque Eva lha deu.
E o homem cego sentou-se ao fundo das escadas.
E estendeu a mão.